Fiquei deficiente em consequência do câncer, isso atrapalha um bocado e me causa dores, mas não me impede de viver.
Eu sofro um bocado com as dores, como isolamento, a solidão, luto muito pra não entrar em depressão e por isso tento aproveitar toda chance que tenho de sair um pouco de tudo isso.
Sempre que posso tento sair um pouco desse universo de doença, remédios, isolamento e dor.
É difícil, minhas metas mudaram, minha vida mudou. Meus sonhos foram deixados pra trás.
Não posso mais assumir compromissos (pois nunca sei quando terei uma crise de dor e ficar acamada), por isso não posso estudar ou trabalhar.
Tenho meus movimentos limitados, mas meus sentidos ampliados.
Vejo hoje muito mais além, ouço muito mais e sei bem o que quero.
É preciso ver a morte de perto pra descobrir quão importante o tempo é.
Como perdemos tempo e vida por coisas banais.
Hoje eu não perco mais meu tempo, não planejo nem espero mais nada. Apenas vivo e tento espremer vida de cada segundo que tenho.
Não há tempo a perder.
To recuperando o tempo perdido, a vida perdida.
Não posso recuperar mais o que perdi, o que se foi se foi... o que posso fazer é limpar a casa e deixar a porta aberta para novas coisas entrarem.